Numerosos fragmentos de ossos humanos descobertos na Travessa da Pena em Lisboa. Através da sondagem realizada verificou-se a existência de uma ocupação da área como espaço funerário em época Moderna / Contemporânea, facto expectável face à proximidade da Igreja de Nossa Senhora da Pena, erigida em 1705.
Enquadramento: Os trabalhos de arqueologia foram contratados na sequência da obra de valorização projectada para o local, que havia já sido licenciada pela Câmara Municipal de Lisboa e que consistia na demolição de alguns edifícios em ruína, repavimentação da sua área de implantação e construção de um muro/portão na entrada da Vila Serra Fernandes.
Durante estes trabalhos, que não tiveram o devido acompanhamento arqueológico inicial, surgiram numerosos fragmentos de ossos humanos, facto que levou a DGPC a suspender as obras e a exigir a execução de uma sondagem arqueológica no local a fim de avaliar a afectação ocorrida e a natureza dos contextos arqueológicos.
Assim, iniciaram-se no dia 24 de Setembro os trabalhos arqueológicos, implantado-se a sondagem proposta (com as medidas de 2 x 2m) na área de maior concentração de material e indicada como sendo o sítio de ocorrência das ossadas humanas, dentro dos limites da área de implantação dos edífícios entretanto demolidos.
Objectivos:
- A execução de uma sondagem de diagnóstico de 2 x 2m, numa área total de 4m²;
- Determinar a existência e grau de conservação de contextos arqueológicos e eventuais sequências de ocupação;
- A descrição e registo da realidade arqueológica identificada;
- Integrar crono-culturalmente os vestígios arqueológicos, através do estudo das realidades observadas e dos materiais exumados no decorrer da intervenção;
- Avaliar o potencial patrimonial e científico do sítio, de forma a determinar as medidas mais apropriadas para protecção/minimização de impactes negativos.
Trabalhos: Os trabalhos de campo consistiram na abertura de uma sondagem manuais, de 2m x 2m.
Materiais: Conjunto de materiais cerâmicos, vítreos, malacológicos e metálicos com cronologias enquadráveis na época Moderna e Contemporânea e um conjunto alargado de espólio osteológico humano que foi mantido in situ.
Resultados: Através da sondagem agora realizada verificou-se a existência de uma ocupação da área como espaço funerário em época Moderna / Contemporânea, facto expectável face à proximidade da Igreja de Nossa Senhora da Pena, erigida em 1705. Menos expectável seria a quantidade e concentração de ossadas humanas sobrepostas identificadas no espaço exíguo da sondagem efectuada.
Efectivamente, identificou-se um contexto funerário composto por centenas de peças ósseas em deposição secundária, dispostas ora de forma caótica ora de forma ordeira, respeitando a mesma orientação – como se observa no alargado conjunto de ossos longos dispostos de forma cuidada; do qual farão ainda parte um mínimo de quatro enterramentos sobrepostos, identificados in situ com conexões anatómicas, estando as duas deposições de cota superior com orientação sensivelmente a Norte e os de cota superior na orientação inversa. É ainda de salientar o facto de estes contextos se encontrarem a escassos centímetros da superfície do terreno, logo sob o piso do edifício pré-existente.
Responsáveis pelo Projecto: Raquel Santos e Paulo Rebelo