Os trabalhos tiveram como objectivo o acompanhamento arqueológico de todas as
actividades de obra que implicaram a remoção e revolvimento do sub-solo efectuados no
decurso da “empreitada para reabilitação do espaço público e renovação das infraestruturas
da Vieira Portuense, em Lisboa” de forma a minimizar e salvaguardar eventuais
afectações patrimoniais e determinar outras medidas de minimização a adoptar no
prosseguimento da obra.
Assim, foram acompanhados trabalhos de naturezas diversas, como: arranque e corte de árvores, abertura de caixas e reformulação da rede de drenagem, abertura de galeria técnica e substituição de pavimentos e passeios, abertura de poços para implantação de caixa de bombagem, entre outras acções que implicassem movimentação de solos.
Na sequência dos trabalhos referidos, foram postas a descoberto as fundações do antigo
mercado de Belém, situado junto ao cruzamento das actuais rua Vieira Portuense e
Travessa da Praça, bem como diversas antigas estruturas de saneamento urbano.
Raramente foi possível fazer uma leitura cronológica da estratigrafia uma vez que os níveis
postos a descoberto se tratavam essencialmente de aterros sem materiais que servissem
de “balizador cronológico” seguro, ou já muito afectados por revolvimentos recentes.
Os trabalhos de acompanhamento arqueológico efectuados no âmbito da “empreitada
para reabilitação do espaço público e renovação das infra-estruturas da Vieira Portuense,
em Lisboa”, permitiram a identificação de variadas estruturas essencialmente de
cronologia contemporânea.
De entre as várias realidades arqueológicas identificadas salientamos o vasto conjunto
estrutural pertencente às fundações do mercado de Belém, inaugurado em 1882, fruto da
restruturação então empreendida naquela parte da cidade de Lisboa. Assim, aquando da
abertura da fundação para a galeria técnica que se pretendia executar junto ao jardim que
limita a sul a Rua Vieira Portuense identificou-se um vasto conjunto de estruturas
constituídas por alvenaria de pedra calcaria e basalto unidos por argamassa de cal amarela
alaranjada compacta, que se entendiam por mais de 16m de comprimento. A cartografia
de meados do século XIX representa já uma estrutura sensivelmente naquele local,
assinalada como mercado. Porém, seria somente em 1882 que se iria inaugurar o mercado
de Belém que ocuparia um edifício renovado e ampliado, de planta quadrangular,
assinalado no levantamento topográfico de Lisboa datado de 1909.
Para além da mencionada estrutura foram identificadas outras, correspondendo às
fundações de edifícios mais antigos, de cronologia presumidamente Moderna,
pertencente ao vasto conjunto habitacional que se desenvolvia naquela área e do qual só
subsistem os edifícios actualmente existentes na Rua Vieira Portuense. A restruturação
deste espaço da cidade de Lisboa dá-se na década de quarenta do século XX, com a
exposição do Mundo Português, organizada pelo Estado Novo, que procurava realizar uma
grande exposição da sua auto-consagração, juntando a esta data outras duas com
significado na história de Portugal: 1140, ano da fundação da nacionalidade e 1640, data
da restauração da independência em relação à coroa Espanhola. Foram então construídas
novas estruturas, procedendo-se à limpeza e arranjo urbanístico da zona, tendo como
centro uma enorme praça, denominada Praça do Império, onde se construiu uma fonte
luminosa monumental. Esta praça organizou o espaço junto ao Mosteiro dos Jerónimos,
numa área de cerca de 560 mil metros quadrados, onde se construíram diversos pavilhões,
um espelho de água, espaços ajardinados, restaurantes, um parque de diversões, entre
outras construções de caracter provisório. Após o termo da exposição foram desmontados
quase todos esses equipamentos.
A estratigrafia identificada documenta esta realidade e outras subsequentes, que
provocaram intensos revolvimentos no solo, afectando as pré-existências documentadas
anteriormente. Assim, como vimos, a maioria dos depósitos identificados corresponde a
aterros recentes de natureza bastante heterogénea realizados na sequência da
restruturação daquele espaço na década de 40 do século XX, dos quais se identificaram
materiais diversos cujas cronologias remontam ao século XVII.
Responsáveis pelo Projecto: Nuno Neto, Sara Brito e Paulo Rebelo