Espaço: Terreno em contexto urbano enquadrado pelo Largo da Ajuda, Rua Azeredo Perdigão, Moradias e Supermercado LIDL. Neste terreno localizava-se anteriormente uma Fábrica de Conservas e posteriormente armazéns entre outros.
Objectivos: Os trabalhos arqueológicos neste terreno sito na freguesia da Ajuda em Peniche iniciaram-se com o acompanhamento arqueológico dos trabalhos de terraplenagem por parte do Dr. Rui Venâncio, arqueólogo da Câmara Municipal de Peniche. Estes trabalhos de minimização de impactes surgiram devido ao potencial arqueológico do sítio derivado à proximidade da Igreja de Nossa Senhora da Ajuda e do sítio dos Fornos Romanos do Morraçal da Ajuda.
No âmbito desses trabalhos foram identificados vários contextos arqueológicos que levaram, através de decisão das entidades envolvidas, à realização na parte Este do terreno de valas de diagnóstico utilizando meios mecânicos para determinar rapidamente o potencial arqueológico dessa zona com maior espessura de aterro.
Trabalhos: Foram realizadas 5 valas de diagnóstico distribuídas ao longo da parte Este do terreno ainda não terraplenado. Essas valas foram abertas por meios mecânicos. Com o aparecimento de vestígios arqueológicos foi decidido aumentar a área de intervenção. Em primeiro lugar esta zona do terreno foi decapada (mais uma vez por meios mecânicos e após o registo dos cortes das valas) até à cota de aparecimento dos vestígios arqueológicos e em seguida iniciou-se a escavação em área por meios manuais de toda a zona de dispersão desses mesmos materiais.
Materiais: No decorrer da escavação tem foram exumados uma grande quantidade de artefactos e ecofactos, nomeadamente ânforas (e respectivas tampas), cerâmica comum (almofarizes, potes entre outros), terra sigillata, cavilhas e pregos de várias dimensões em bronze, para além de variado material osteológico e malacológico. Têm particular interesse placas de pequenas dimensões em chumbo com inscrições em numeração romana e caracteres latinos que presumimos serem etiquetas de ânforas com informação do produto transportado e proveniência. Todo o material romano é enquadrável, após uma análise preliminar, entre os finais do século I a.C. e o século I d. C.
Resultados: Através das valas de diagnóstico realizadas foi possível ter uma leitura da estratigrafia do local: Sob uma camada superficial composta por vestígios de estruturas e pisos relacionados com a fábrica e posteriores armazéns e oficina existentes neste local foram detectadas duas camadas com material arqueológico: Uma primeira castanha clara com materiais romanos misturados com materiais sobretudo de época moderna e, sob essa uma camada castanha escura apenas com materiais romanos aparentemente selados.
Foi possível definir várias bolsas de material romano e uma concentração de maiores dimensões de cerâmica que levou ao aumento da área intervencionada.
Os trabalhos de definição dessa mancha detectada em uma das valas levaram à definição de uma área ainda a escavar de cerca de 600 m2. Estamos neste momento perante um edifício composto de vários estruturas nas quais se inclui um corredor e o que parecem compartimentos. As estruturas exumadas foram realizadas em pedra calcária e também pedra exógena como granito e gneiss possivelmente para aqui trazida por barcos que as utilizaram como lastro.
Associada a estas estruturas surge uma mancha extensa de materiais arqueológicos, com espessura entre os poucos cm e cerca de um metro, que foram aqui espalhados com a função de nivelamento e impermeabilização da zona para aplicação de um piso.
Ainda nos escapa a função do edifício entretanto exumado. Esta estaria decerto relacionada com a actividade portuária, ou como armazém, ou servindo de apoio aos fornos romanos detectados nas proximidades ou noutra função transformadora relacionada por exemplo com a salga de peixe. Só o avançar dos trabalhos nos poderia trazer uma resposta.
Responsáveis pelo Projecto: Raquel Santos e Tiago Fontes
Entidade Adjudicante: Meia Via, S.A.