Trabalhos de sondagem arqueológica e de posterior acompanhamento arqueológico realizados no edifício sito na rua Ribeiro Sanches nº 67, na zona da Lapa, em Lisboa. O imóvel localiza-se numa área com algum potencial arqueológico, conhecendo-se vestígios de olarias na zona da Rua de Buenos Aires e de Santana à Lapa, caracterizando-se como zona de expansão urbana que remonta ao período pós-pombalino/oitocentista.
As três sondagens efectuadas permitiram observar níveis de aterro contemporâneos e diversas infra-estuturas relacionadas com uma ocupação anterior ao edifício existente, mais ainda de época contemporânea. A nível estrutural, com excepção dos muros e canalizações do actual edifício, de período oitocentista, identificaram-se, então, estruturas de condução de águas e três muros de concepções anteriores do espaço, não se tendo detectado contextos arqueológicos de maior relevo.
Os trabalhos arqueológicos efectuados permitiram perceber como se processou a ocupação do espaço previamente à construção do edifício actual. As sondagens 2 e 3 foram as menos relevantes do ponto de vista arqueológico, uma vez que só se identificou o traçado de muros do edifico actual e de outro precedente com materiais e soluções contemporâneas. Neste sentido, a implantação do poço do elevador, na zona da sondagem 3, não implicava qualquer impacto arqueológico. A zona da sondagem 2, representativa do ensoleiramento geral, denotava a existência de um muro de uma fase anterior do edifício atravessando-o no sentido S-N e de uma estratigrafia simples de meio metro composta por piso actual e aterro.
No que diz respeito à sondagem 1 verificou-se a existência de estruturas de canalização de água e de um muro adossado por arco de período contemporâneo. Durante o acompanhamento, definiu-se parte do seu prolongamento na área restante a ser afectada, mas sem se conseguir acrescentar mais dados aos recolhidos com a sondagem realizada. Muito embora não tenhamos qualquer indicação, cartográfica ou outra, acerca da possível função destas estruturas, avançamos a hipótese de se tratar de um sistema hidráulico de abastecimento aos campos e quintas que aqui existiriam até ao século XIX. A hipótese das estruturas constituírem parte do sistema de ramais do Aqueduto das Águas Livres, embora não seja de descartar, parece-nos mais difícil, uma vez que o ramal mais próximo se encontra a Este (na zona da Rua do Pau de Bandeira), a uma distância de cerca de 100m; e também a Noroeste (a Oeste da Avenida Infante Santo), a uma distância de cerca de 150m em linha recta.
Para além destes achados, exclusivamente em fase de acompanhamento, detectaram-se estruturas relacionadas com a construção existente, mas também de uma ocupação anterior, igualmente de época contemporânea. Relacionados com o edifício até aqui existente definiram-se sapatas dos muros de limite do edifício, [06], valas de fundação, [03], o contraforte da fachada principal, [12], e canalizações, [09], [10] e possivelmente [127]. Não relacionados e de uma ocupação anterior, observaram-se dois muros de pedra argamassada no corte Sul da vala 1, todos com características que indicam uma cronologia contemporânea, possivelmente oitocentista.