Espaço: O sítio localiza-se nas encostas de uma elevação suave (a cerca de 148m de altitude), que atinge no topo cerca de 180m em relação nível médio das águas do mar. Do ponto de vista geológico, encontra-se numa área de argilas, margas, calcários e conglomerados formados no Miocénico, mais especificamente numa crista com desenvolvimento SE-NO, de granito calco-alcalino, de grão médio, não porfiróide. As estruturas negativas identificadas nos trabalhos arqueológicos terão sido escavadas nas margas existentes naquela área.
Objectivos: minimizar os impactes sobre o património arqueológico decorrentes da execução da Barragem da Amoreira, através da abertura de sondagens e escavação em área dos contextos detectados.
Trabalhos: Os trabalhos arqueológicos no sítio de Figueiras 4 iniciaram-se com a limpeza manual de toda a área, de forma a identificar áreas de maior concentração de vestígios, tendo em vista a marcação das sondagens a efectuar.
Feita a marcação, iniciou-se a primeira fase dos trabalhos, com a escavação manual de 11 sondagens: quatro no Sector I e sete no Sector II. Face aos elementos recolhidos, decidiu-se a realização de uma segunda fase da intervenção arqueológica, que contou com o alargamento de algumas sondagens de maior relevância; a escavação manual integral da área adjacente ao Sector I, face aos vestígios detectados neste e à sua afectação total por parte da obra de construção; a remoção mecânica, acompanhada, dos depósitos remanescentes nos Sectores I e II, correspondentes aos espaços deixados livres entre as sondagens e posteriores alargamentos; e ainda a recolha criteriosa dos materiais provenientes dos depósitos removidos mecanicamente, recorrendo a um processo de crivagem expedita.
Materiais: A análise do material recolhido durante as duas fases dos trabalhos arqueológicos permitiu a inventariação de 1155 fragmentos ou conjuntos de fragmentos, dos quais 339 provenientes de recolhas de superfície ou crivagem de terras aquando da decapagem mecânica e 816 provenientes das diversas sondagens e respectivos alargamentos. De entre o material proveniente das sondagens nota-se a esperada predominância da cerâmica em relação aos restantes, existindo no conjunto exemplos de materiais osteológicos, malacológicos, metálicos, pétreos, vítreos, carvões, objectos em osso e ainda material de construção.
Uma vez analisado o conjunto de materiais na sua generalidade, poderemos verificar que existem algumas peças passíveis de fornecer cronologias mais ou menos fiáveis, embora bastante vastas, para a ocupação do local em questão, apesar de a maioria do espólio inventariado não permitir uma aproximação mais precisa do que a de Época Romana. Dos 1155 números de inventário, 107 são de cronologia indeterminável, 619 poderão ser atribuídos ao período romano e 429 permitem datações relativas, entre os séculos I e V.
Resultados: Do conjunto das diferentes fases de intervenção no sítio arqueológico de Figueiras 4, resultou uma escavação em área, onde se conjugaram meios manuais e mecânicos.
No geral, e com excepção de uma área específica localizada no Sector III, a estratigrafia do local é muito simples, reduzindo-se a uma sequência de dois a três níveis com interesse arqueológico. Ainda assim, nesses níveis, a presença de espólio arqueológico é muito frequente e, apesar de se compor maioritariamente de cerâmicas de construção (quadrantes, tijolos, telhas), recolheram-se numerosos exemplares de outros tipos, nomeadamente de cerâmica comum, mas também de terra sigillata e cerâmica de paredes finas. Entre o espólio não cerâmico, apontamos os exemplares metálicos, os fragmentos de estuque pintado, e os restos de escória. A cronologia romana parece ser factor comum a todo o espólio identificado. No Sector I registou-se um pequeno murete, cujos limites não foi possível identificar, por se encontrarem fora da área de intervenção, a SO, e já destruídos pela estrada de acesso à obra, a NE. De pequeno porte, muito irregular, e aproveitando parte de uma crista rochosa própria do afloramento, parece tratar-se de um separador de propriedade rural. A presença de uma villa romana nas proximidades, e cuja pars rustica terá sido escavada em área adjacente à agora intervencionada, permite supor a continuação daquela área funcional agrícola, onde a sequência de interfaces acima mencionada poderá ser incluída, servindo, por exemplo, como dispositivo de decantação. Foi também detectado um conjunto de quatro valas convergentes, no Sector II, que teria evidente função prática de escoamento. As suas dimensões parecem indicar mais que meros canais de rega. Em momento posterior ao abandono e enchimento definitivo das valas mencionadas, terão sido abertas quatro fossas no mesmo Sector. Se três destas teriam, em princípio, propósito de armazenamento, neste caso utilizadas como silos para guardar cereal, já a restante, pelas suas dimensões, e por ter sido aberta para conter exclusivamente um recipiente cerâmico, sugere práticas devocionais, ou rituais fundacionais, de que se conhecem notícias no mundo romano.
Do descrito resulta, no sítio de Figueiras 4, uma ocupação de clara cronologia romana e de longa prevalência, relacionada com a villa adjacente, cujas estruturas detectadas apontam para claro ambiente de vivência funcional imputável à actividade agrícola.
Responsáveis pelo Projeto: Ana Vieira, Paulo Rebelo e Raquel Santos