Os trabalhos arqueológicos realizados na Casa de Santa Maria, em Cascais, consistiram na abertura de duas sondagens manuais de diagnóstico. Tendo em conta o potencial histórico-arqueológico da zona, actualmente de cariz marcadamente urbano, esta intervenção arqueológica de natureza preventiva decorreu das medidas de salvaguarda a implementar, decorrentes do projecto de remodelação da Casa de Santa Maria, classificada como Imóvel de Interesse Municipal e localizada entre a Rua Afonso Sanchez e a Travessa Visconde da Luz, no centro de Cascais. O imóvel localiza-se assim a Norte do núcleo antigo da vila de Cascais, numa zona de expansão urbana que poderá remontar ao período moderno, com eventual potencial arqueológico. A intervenção teve assim por objectivos o registo e caracterização de contextos arqueológicos eventualmente conservados no subsolo da área a afectar pela execução da obra, no sentido de determinar a necessidade de implementação de medidas preventivas adicionais em fase de obra.
Os elementos materiais revelam contextos enquadráveis entre os finais do século XIX e o século XX. Os fragmentos de faiança são os elementos que maior segurança conferem a esta avaliação. O conhecimento geral dos modelos e técnicas decorativas, adoptadas dos fins do século XVI aos nossos dias, permite um melhor enquadramento temporal dos diferentes contextos registados.
Entre o espólio cerâmico podemos encontrar a habitual louça de cozinha e mesa (panelas, tigelas, pratos, etc.), bem como contentores de armazenamento/transporte (potes) e outros objectos cerâmicos. Uma leitura dos dados revela-nos a predominância da louça de mesa, seguida da louça de cozinha, existindo ainda um pequeno número de testos e vasos de flores.
Em termos cronológicos, os dados preliminares permitem enquadrar estes fragmentos entre os meados/finais do século XIX e o século XX. Subsistindo ainda alguns materiais que, nesta fase, nos colocam alguma dúvida sobre a sua exacta cronologia. Os materiais mais antigos, dos séculos XVII-XVIII, surgem na camada [204] – da sondagem II – e encontram-se misturados com materiais contemporâneos. Para estes materiais podemos encontrar afinidades com os pratos exumados de contextos modernos de Lisboa e Cadaval (Cardoso et alii, prelo; Cardoso, 2009, pp. 43-82).
A cerâmica mais «fina» - de ir à mesa – está representada de forma expressiva entre o espólio exumado, resumindo-se a exemplares de faiança portuguesa. No que se refere às formas identificadas, surgem em maioria pratos de fundo côncavo e em ônfalo. Alguns destes apresentam decoração geométrica a azul-cobalto e a vinoso, de uma fase do século XVII-XVIII. A grande maioria dos materiais dos séculos XIX e XX enuncia uma panóplia de cores abrangente: azuis, verdes, amarelos, vinoso, negro, castanho e laranja. Mantém-se o gosto pelos motivos vegetalistas e geométricos, agora elaborados com técnicas e desenhos diferentes, por vezes enquadrando paisagens.
No que se refere às cerâmicas com vidrado plumbífero, as formas identificadas são menos expressivas e variadas. A quantidade de alguidares assume destaque, parecendo denotar que esta seria uma característica importante no que tocas às funções que este tipo de recipiente poderia representar. A cor preferencial é o melado, existindo ainda tons verdes e incolores.
Responsáveis pelo Projecto: Raquel Santos, Nuno Neto e Paulo Rebelo