A intervenção arqueológica realizada no Beco do Loureiro, no Bairro de Alfama, em Lisboa, levada a cabo pela Neoépica, entre Dezembro de 2011 e Janeiro de 2012, permitiu a identificação de um conjunto estrutural de época Moderna/Contemporânea, constituído por uma rua calcetada, ladeada por dois edifícios, um deles relacionado com uma pequena indústria ou forja.
Através das sondagens realizadas verificou-se a existência de uma ocupação da área em época Moderna / Contemporânea, patente no conjunto arquitectónico posto a descoberto na Sondagem I, bem como nos níveis conservados na área da Sondagem II. Essa ocupação revela não só uma área habitacional mas também uma pequena indústria, que aproveitaria certamente a linha de água que ali corria.
Observa-se, por um lado, a ausência de níveis de cronologia Moderna sobre as estruturas existentes na Sondagem I, que nos permite supor que as mesmas terão estado em funcionamento até ao século XIX, hipótese corroborada pela cartografia antiga, uma vez que na planta de Filipe Folque (1856-1858) a zona surge ainda como área construída, pelo menos no que respeita à área Oeste do terreno, estando já livre de construções na planta de Vieira de Silva, de 1909. Por outro lado, surgem na área da sondagem II sucessivos níveis que forneceram materiais enquadráveis entre os séculos XV/XVI, fornecendo um testemunho do início da época Moderna.
Objectivos:
- A execução de sondagens de diagnóstico prévias numa área total de 94m², distribuídos por 2 sondagens arqueológicas, uma de 2x2m, situada na zona Norte do terreno e outra de 9x10m, posteriormente alargada em mais cerca de 2m para Norte, situada na zona Sul do terreno;
- Determinar a existência e grau de conservação, de contextos arqueológicos e eventuais sequências de ocupação;
- A descrição e registo da realidade arqueológica identificada;
- Integrar crono-culturalmente os vestígios arqueológicos, através do estudo das realidades observadas e dos materiais exumados no decorrer da intervenção;
Trabalhos: Escavação de 2 sondagens arqueológicas manuais, numa área total de 94m2.
Materiais: As duas sondagens mostraram realidades diferentes. A primeira caracterizou-se pela existência de um conjunto de estruturas domésticas e industriais do século XVIII, com pervivência até à segunda metade do XIX ou início do século XX, com materiais associados coerentes com estas cronologias. A segunda, por algumas estruturas negativas, por um muro com continuidade para lá da sondagem e pela exumação de um crânio humano e diverso material arqueológico com cronologias em torno dos séculos XV a inícios do XVII.
Resultados: Uma análise geral dos dados obtidos permite avançar com uma hipótese para a sucessão de diferentes momentos de ocupação deste espaço:
- Fase 1 – O primeiro momento datará do início da época da moderna (séculos XV-XVII), podendo estar relacionado com a fase de construção dos elementos estruturais identificados na Sondagem I, tal como comprovam os depósitos [171] (sob o nível de piso do compartimento 1 – sondagem III) e [121] (que encosta directamente sobre as paredes do compartimento 2). Ainda relacionados com esta fase, estarão os diversos depósitos registados aquando da abertura da sondagem II;
- Fase 2 – Um segundo momento estará relacionado com a ocupação deste espaço possivelmente entre o século XVII e a 2ª metade do século XVIII. Nesta época terá sido erguida e utilizada a estrutura [204];
- Fase 3 – A partir de finais do século XVIII ou inícios do século XIX, todo este espaço terá entrado em processo de degradação, de que são prova elementos como o remendar do piso, a implantação da forja e o uso do mesmo espaço como vazadouro dos restos oriundos da forja, e o levantar de pequenos muros em tijoleira;
- Fase 4 – Já no século XIX ter-se-á dado a destruição e respectivo abandono de todo este conjunto estrutural, cujas paredes superiores terão servido para entulhar os diferentes compartimentos, criando-se um espaço aberto usado como horta e jardim ao longo do século XX.
Responsáveis pelo Projecto: Raquel Santos, Nuno Neto e Paulo Rebelo
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