Os trabalhos arqueológicos foram realizados no edifício sito na Calçada do Rio do Porto nº 1, 3, 5 e 7, no Centro Histórico da Vila de Sintra. O imóvel localiza-se a Nordeste do antigo núcleo da Vila, numa zona de expansão urbana que remonta ao período contemporâneo, com eventual potencial arqueológico.
O edifício encontra-se em avançado estado de ruína, tendo a intervenção arqueológica sido realizada no âmbito de um projecto de reabilitação, que passará pela recuperação do existente. Em resultado de algumas obras de reestruturação do edifício, que afectarão o subsolo, a escavação desenvolvida surge como condicionante imposta pela Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC).
Assim sendo, os trabalhos efectuados tiveram como principal objectivo o registo e caracterização de contextos arqueológicos eventualmente conservados no subsolo da área a afectar pela execução da construção, no sentido de determinar a necessidade de implementação de medidas preventivas adicionais em fase de obra.
Os trabalhos arqueológicos consistiram na abertura de três sondagens manuais de diagnóstico. Estas implantaram-se nas áreas previstas para a construção de uma piscina, na zona do logradouro, e de reforço estrutural de algumas das paredes existentes.
Com efeito, com este relatório pretende-se apresentar a descrição dos trabalhos realizados, bem como da metodologia adoptada e os dados recolhidos na escavação das sondagens arqueológicas de diagnóstico.
Os resultados da intervenção arqueológica permitiram conhecer a realidade contextual, nos seus registos arqueológico e histórico. O edifício em causa remonta à última década do século XIX, estando provavelmente ligado à construção do mercado municipal à data de 1894, tendo servido como mercearia (Azevedo, 1998, p.26). A este respeito diga-se que no paramento que separa o prédio do edifício do antigo mercado é visível um aparelho construtivo mais arbitrário e com elementos de menor dimensão na zona correspondente a uma antiga abertura, que se encontra delimitada por um arco.
Os depósitos continham uma cultura material típica desse período, ainda que acompanhada de materiais mais antigos, de época moderna. A excepção prende-se com o depósito [203], que para lá das diferenças sedimentares, não evidenciou uma materialidade contemporânea, que se pudesse assemelhar às restantes camadas.
A UE [203] poderá ser o único nível de cronologia moderna. Como referido, esta foi cortada para a realização do muro [201]. Este muro (patente, em corte e em plano, na sondagem II) foi construído e abateu parcialmente num período indeterminado, mas posterior aos fins da Idade Moderna e anterior à construção da fachada tardoz do edifício actual, na viragem do século XIX para o XX. A gravura “Vue de Cintra prise du Jardin du Comte da Povoa”, de Clémentine Brélaz (Cachado et alli, 2009, p.29), revela que à data (1840) a zona em causa tinha um fim agrícola, observando-se vários muros de contenção de terras, tal como ainda hoje se nota na traseira do edifício. Poderá ter sido essa a funcionalidade do muro [201], que posteriormente foi reaproveitado para dar consolidação estrutural ao prédio em causa.
No cômputo geral, nos trabalhos realizados não se regista qualquer contexto arqueológico relevante. A estratigrafia identificada durante a execução das sondagens é constituída quase exclusivamente por níveis de construção e enchimento contemporâneos. Uma primeira fase, a que dizem respeito as UE’s [201], [203] e [210], poderá ter origem nos fins da modernidade. A planta de J. A. Abreu (1850) e a gravura de Brélaz (1840) dão conta do fim agrícola deste terreno e da existência de muros de contenção na primeira metade do século XIX. A segunda fase corresponde ao actual prédio que teve um fim comercial, desde a sua construção na viragem do XIX.
Responsáveis pelo Projecto: Miguel Rocha, Paulo Rebelo e Sara Brito