Enquadramento: No decurso dos trabalhos de acompanhamento arqueológico efectuados nos lotes 27 a 30 do empreendimento “Condomínio da Azinheira” em Ferreira do Alentejo, foram identificados vários contextos arqueológicos relacionados com o mundo da morte durante o 4º e o 3º milénio a.c.
Aquando da chegada ao terreno da equipa de arqueologia, toda a área correspondente aos lotes 27 a 30 já se encontrava decapada até à cota necessária para a edificação do projecto de construção, sendo nesse nível que se registavam os contextos e estruturas arqueológicas.
Assim, para além de uma mancha de sedimento de tom castanho com algum material arqueológico enquadrável na Pré-história recente, registou-se uma série de contextos funerários tipo tholos. Dadas as suas características intrínsecas, estes elementos revestem-se de grande importância do ponto de vista científico e patrimonial.
A continuação dos trabalhos de construção levou posteriormente à realização de trabalhos arqueológicos durante os quais se procurou avaliar o grau de afectação que a implantação da construção teve sobre as estruturas e contextos arqueológicos identificados (Rebelo, Santos, 2010; Rebelo, Santos, 2011).
Após as devidas autorizações por parte do Igespar, procedeu-se ao acompanhamento arqueológico da implantação do edifício projectado sobre os contextos arqueológicos identificados.

Objectivos: acompanhamento arqueológico de todos os trabalhos de escavação e movimentação de terras no âmbito das obras de construção do Condomínio da Azinheira, localizado em terreno próximo à área ocupada pelo Povoado do Porto Torrão. Identificação e registo de todos os contextos arqueológicos existentes com o objectivo de minimizar o impacte negativo da obra sobre estes.

Trabalhos: Acompanhamento arqueológico dos trabalhos de construção do condomínio nos lotes 27 a 30, definição e registo das estruturas arquelógicas detectadas, realização de sondagens arqueológicas após implantação das fundações da nova construção a fim de detectar possíveis afectações aos contextos arqueológicos.

Materiais: Num total de 128 fragmentos de artefactos e ecofactos, os materiais cerâmicos representam c. de 90%, com 119 fragmentos inventariados. Estes revelaram-se de fabrico manual, com formas típicas do Calcolítico (p.e. pratos de bordo espessado), mas também várias formas com paralelos em vários períodos pré e proto-históricos (taças de configuração esférica e potes esféricos).
Do conjunto recolhido registaram-se, igualmente, duas formas de bordos que apresentam forma típica dos vasos campaniformes.

Resultados: Os trabalhos realizados no âmbito do acompanhamento arqueológico dos lotes 27 a 30 do Condomínio da Azinheira, permitiram identificar e caracterizar uma série de elementos patrimoniais de inegável valor científico. Correspondem a elementos estruturais de carácter funerário, do período Calcolítico, ligados aos modelos relacionados com a gestão da morte de há cerca de 3000 anos a.c.
As três estruturas tipo tholoi, fazem certamente parte de um conjunto mais alargado, onde se podem enquadrar os tholoi da Horta de João da Moura 1 (Valera, 2010), intervencionados a poucos metros para norte, dos aqui apresentados. Este grupo de estruturas de carácter funerário encontra-se directamente relacionado com o Povoado de Porto Torrão, podendo ser agrupado, de forma mais alargada, numa espécie de cintura caracterizada por diversos núcleos, que circundam o extenso povoado (Valera, 2010). Este tipo de espacialidade encontra paralelos em outros sítios do período Calcolítico, como é exemplo Alcalar (Morán, E., 2008).
Os trabalhos realizados permitiram a caracterização superficial dos vestígios. Bem como o avaliar do tipo de afectação de que as estruturas e os contextos arqueológicos foram alvo aquando da implementação do projecto de construção, excepção feita para a área do lote 28 cujas circunstâncias não permitiram uma adequada avaliação. Procedeu-se igualmente ao acompanhamento arqueológico da colocação da laje de cobertura e do respectivo fecho dos elementos patrimoniais.

Responsáveis pelo Projecto: Paulo Rebelo e Raquel Santos