Realização de 11 sondagens de diagnóstico manuais e de 12 sondagens parietais. Os trabalhos foram desenvolvidos no imóvel sito no Campo das Cebolas, nº 1 a 12A e Arco de Jesus, nº 1 a 5, em Lisboa, com algumas alterações ao previsto no Plano de Trabalhos e na Adenda ao Plano de Trabalhos, sempre com o intuito de melhor caracterizar as realidades identificadas no decurso dos trabalhos.
As sondagens de diagnóstico foram marcadas nas áreas de maior afectação do projecto, nomeadamente nos espaços onde se previa a construção de poços de elevador e de reforços estruturais ao nível das fundações no edifício em causa. Duas das sondagens propostas inicialmente tinham ainda como propósito identificar o troço da muralha romana tardia que se previa passar sensivelmente a meio do edifício, de acordo com os dados recolhidos na intervenção arqueológica levada a cabo recentemente nos antigos Armazéns Sommer.
Os trabalhos realizados permitiram registar vestígios de uma longa diacronia de ocupação que vai, grosso modo, de época romana até à actualidade.
As sondagens de diagnóstico de solo permitiram confirmar não só a existência da muralha tardo-romana, mas também a presença de outros contextos de época romana. Embora nesta fase dos trabalhos não se consiga afinar as cronologias correspondentes a esta ocupação da cidade de Lisboa, pode avançar-se que os materiais arqueológicos recolhidos demonstram uma ocupação romana não só anterior à construção da muralha, como também posterior à construção da mesma. A título de exemplo, podemos referir duas realidades que atestam esta longa ocupação romana: a estrutura [309] identificada na sondagem III e cujo reaproveitamento e incorporação na construção da muralha é observável no alargamento Norte da sondagem VI; e o piso [123] construído em pedras de pequena dimensão e argamassa que por sua vez vai encostar à face Norte dessa estrutura. Importa ainda referir que muitos destes níveis de cronologia romana se encontram à mesma cota que outros de cronologia contemporânea, com frequência imediatamente abaixo do piso actual.
Foi ainda possível detectar uma ocupação, aparentemente, de época moderna, da qual as estruturas identificadas na sondagem I (muro [112]), na sondagem V (muro [512]), e na sondagem VI (poço [611]), parecem exemplificativas. Para além destas estruturas, numerosos aterros com materiais arqueológicos enquadráveis entre o século XVI e primeira metade do século XVIII foram registados a Sul da muralha romana nas sondagens I, V e VI.
De época contemporânea, provavelmente já do século XX, podemos referir o forno identificado na sondagem IX e os vestígios de pisos e outras estruturas que utilizam o mesmo tipo de material na sua construção, nomeadamente os tijolos maciços registados nas sondagens VII, VIII e XI.
Relativamente à análise parietal, foi possível verificar a presença da muralha tardo-romana em quatro das sondagens executadas. Nas sondagens 1 e 3, sob uma parede falsa em tijolos de oito furos e cimento, registou-se a face Norte da estrutura onde descarregavam os arranques das abóbadas do antigo palácio. Conseguiu-se ainda confirmar o local exacto de onde arrancaria o primeiro degrau da muralha entretanto rebaixado até um pouco abaixo ao nível do solo e cuja existência é visível na sondagem I. Esta pré-existência de um degrau a uma cota superior é bem visível na parede através de um interface que separa uma parte em que se observam as faces dos silhares que constituem os limites exteriores da muralha de outra em que já só é visível o “miolo” da mesma.
Nos alçados Oeste e Sul da sondagem 1, na sondagem 2 e na sondagem 4 foi possível obter uma leitura clara do aparelho interno da muralha que vem reforçar o que se havia já identificado no alçado Norte desta, isto é, o interface que assinala o ponto de arranque do primeiro degrau da estrutura. Na sondagem 10, implantada no limite Este do edifício (no lado interno, aproximadamente no alinhamento do limite Sul do Arco de Jesus), também foi possível identificar o aparelho correspondente ao “miolo” da muralha. Em nenhuma das sondagens se verificou a continuação da estrutura para os pisos superiores.
Para além dos vestígios da muralha tardo-romana, as sondagens parietais foram essenciais na averiguação do aparelho construtivo das paredes do edifício antigo. Os níveis mais antigos registados correspondem a uma construção com recurso a tijoleiras e elementos pétreos de pequena a grande dimensão (incluindo cantarias) cujo ligante consiste numa argamassa de tonalidade rosada. Este aparelho apresenta sempre um rodapé em lajes calcárias de grande dimensão, sendo depois regularizado com argamassa sobre a qual é aplicada uma camada de estuque pintado. Os pilares de arcos onde foram feitas análises são constituídos por grandes silhares calcários.
Em várias sondagens foi possível identificar vestígios posteriores à fase de construção e prévios ao recente abandono do edifício, o que mostra igualmente uma ocupação e transformação contínuas do imóvel.
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